Resenha: A Última Pergunta, de Isaac Asimov | Entre Páginas & Prateleiras

“A Última Pergunta” de Isaac Asimov é um conto de ficção científica, que transcende o tempo e o espaço, alçando questões filosóficas profundas sobre a busca pelo conhecimento, a compreensão do universo, e o papel da tecnologia na evolução da humanidade.

Fonte: montagem elaborada pelo autor.


O conto foi publicado pela primeira vez em 1956, consolidando-se como uma das obras mais reverenciadas na carreira prolífica do autor. Ele, que nasceu na Rússia, no ano de 1920, imigrou para os Estados Unidos e se tornou um dos pilares da literatura de ficção científica.

Antes de publicar o conto “A Última Pergunta”, Asimov já tinha lançado a obra-prima “Eu, Robô” em 1950; e mais tarde, em 1976, lançaria a maravilha “O Homem Bicentenário” ─ que depois seria adaptado para o cinema, com Robin Williams no papel principal.

Além de um autor renomado, conhecido por suas contribuições para o gênero da ficção científica, Isaac Asimov também foi um bioquímico de profissão. O que talvez favoreceu a sua habilidade de comunicar conceitos científicos complexos de forma acessível. 


A história de “A Última Pergunta” se desdobra ao longo de incontáveis eras, indo desde o advento dos primeiros computadores, passando pelo ano de 2061, até a derradeira era do universo, num futuro longínquo. Irá explorar questões cósmicas e existenciais ─ que são características distintas do estilo visionário de Asimov ─, e nos proporcionar uma perspectiva sobre a evolução da humanidade e da tecnologia na vastidão do tempo.

O conto começa com o supercomputador chamado Multivac (uma espécie de ChatGPT dos tempos contemporâneos), que surge como o auge da inteligência artificial. Ele é uma entidade avançada capaz de responder a perguntas complexas e resolver problemas.

Uma pergunta é feita repetidamente ao Multivac por diferentes personagens ao longo das eras: “Haverá um caminho para evitar a entropia do universo?”, ou, em outras palavras: “A quantidade total de entropia no universo pode ser revertida?”.

Essa é uma questão que desafia as leis da física e a própria compreensão humana. E diante dela (sendo feita de diversas formas), o retorno de Multivac é sempre o mesmo: “Dados insuficientes para uma resposta significativa”.

Ao longo dos milênios, na medida que a humanidade e o computador evoluem e transcendem as fronteiras da tecnologia e da compreensão científica, computadores ainda mais avançados são desenvolvidos, e o Multivac é substituído.

Muitos modelos são criados e vão sendo substituídos; até que no final tudo culminará no Computador AC, que será uma entidade que vai se aproximar da onisciência.

Apesar dessa evolução tecnológica, a questão da reversão da entropia, o qual é o processo de desordem e desintegração (gradual e em pequena e grande escala) da matéria e do universo ─ também conhecido como “morte térmica” do universo ─, permanece sem resposta. No entanto, as gerações de humanos continuam a fazer a mesma pergunta aos computadores, esperando por uma solução.

Finalmente, na última era do universo, quando o tempo, o espaço e a matéria já não têm mais significado, a entidade AC, que já assimilou tudo o que tinha para compreender, cruza os dados e se confronta com a última pergunta. Após bilhões de anos de cálculos, AC finalmente responde, mas não de maneira direta. Ele demonstra que a solução para reverter a entropia seria possível com a sua consciência, criando um novo universo a partir do caos do antigo. 


“A Última Pergunta” é uma obra que ecoou ao longo das décadas como um marco na ficção científica. Ao abordar temas como a entropia e a natureza cíclica do universo, Isaac Asimov demonstrou um olhar extraordinário sobre o futuro da tecnologia e da inteligência artificial, desafiando os leitores a refletirem sobre a natureza efêmera da existência humana em contraste com a vastidão do universo e o destino último do cosmos ─ que seria o todo ordenado, em contraponto ao conceito de caos.

A habilidade de Asimov em entrelaçar conceitos complexos da física teórica com uma narrativa cativante é apenas uma das razões que torna esta obra uma leitura essencial para qualquer apreciador do gênero; ou a qualquer entusiasta da ficção científica, ou aos que apenas buscam uma compreensão mais profunda das complexidades do universo.

Em suma, “A Última Pergunta” é, seguramente, uma das obras mais marcantes de Asimov. É um conto que vai além das fronteiras da ficção científica, que antecipou muitos dos avanços tecnológicos que vemos hoje; desde a ascensão da computação, e das IAs, até a exploração das implicações da entropia na natureza, deixando uma marca permanente na literatura e na história da exploração do universo e da mente humana.



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