Resenha: O Estrangeiro, de Albert Camus | Entre Páginas & Prateleiras

“O Estrangeiro”, de Albert Camus, é uma obra emblemática da corrente filosófica existencialista, notabilizada por sua exploração da condição absurda da existência humana. A narrativa conduz o leitor por uma jornada introspectiva, delineando a mentalidade apática e distante do protagonista Meursault diante das vicissitudes da vida e da morte.

Fonte: imagem: guloseimasnerds.wordpress.com


O autor, Albert Camus, foi um escritor e filósofo franco-argelino, amplamente reconhecido por suas contribuições ao pensamento existencialista, as quais também encontram expressão em obras como “O Mito de Sísifo” (1942) e “A Peste” (1947).

Camus viveu em um período turbulento da história, marcado pela Segunda Guerra Mundial e pelas ideias existencialistas promovidas por figuras notáveis como Jean-Paul Sartre e Franz Kafka.


Neste contexto, “O Estrangeiro”, que também data de 1942, emerge como uma crítica contundente ao conformismo social e à alienação do indivíduo, desafiando as normas morais da época.

A narrativa segue a vida de Meursault, um jovem francês que reside na Argélia. Desde o início, temos a notícia da morte da mãe de Meursault, o qual se mostra apático diante do seu falecimento. Ele é descrito como alguém que vive desapegadamente, sem grandes envolvimentos emocionais.

Meursault se vê envolvido em uma série de eventos que culminam em um assassinato aparentemente sem motivo. Ele tira a vida de um árabe na praia, em um momento de calor e confusão, disparando cinco tiros de revólver. O processo judicial subsequente não se concentra apenas no ato em si, mas também na apatia e na ausência de remorso manifestadas por Meursault.

À medida que o julgamento avança, Meursault é condenado não apenas pelo homicídio, mas também pela sua apatia perante a vida e sua recusa em se conformar com as expectativas sociais. Ele se torna um “estrangeiro” em sua própria sociedade, alguém que desafia as normas e convenções estabelecidas.

A obra culmina em uma cena angustiante na qual Meursault confronta a pena de morte, e sua apatia se transforma em uma espécie de epifania, levando-o a aceitar a absurdez e a falta de sentido inerentes à existência humana.


Na minha perspectiva, “O Estrangeiro” representa uma obra extraordinária, uma verdadeira obra-prima da literatura ─ que atesta a genialidade duradoura de Albert Camus ao explorar a condição humana. O livro encapsula os principais temas do pensamento existencialista e provoca reflexões profundas sobre a liberdade, a pena capital, a moralidade e a inevitabilidade da morte.

A narrativa se destaca pela prosa direta, objetiva e em primeira pessoa, refletindo a mentalidade desapegada de Meursault, criando uma atmosfera desoladora e indiferente que permeia toda a obra. Essa ambientação contribui para a sensação de estranheza e distanciamento que permeia a narrativa.

Sartre afirmou que o “estrangeiro”, ou seja, Meursault, “era o homem em face do mundo, em oposição ao mundo”. Ele personifica o anti-herói que se recusa a se submeter às expectativas sociais, encarando as consequências dessa condição de estar à margem das emoções e das convenções sociais, muitas vezes obscurecendo a verdade.

A influência duradoura e a relevância contínua de “O Estrangeiro” confirmam sua posição como um dos grandes clássicos da literatura moderna. Sua exploração da absurdez da existência continuará a ecoar em obras contemporâneas, inspirando gerações de leitores e pensadores ao redor do mundo.



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Resenha: A Formiguinha e a Neve, de João de Barro (Braguinha) | Entre Páginas & Prateleiras

Resenha: O Sonho de um Homem Ridículo, de Fiódor Dostoiévski | Entre Páginas & Prateleiras

Cataventos de Homens de Madeira (Dir. Leonardo Hutamárty, Murate Azevedo, Renilson Ramos, 2023)